Ministério da Saúde quer dados mais detalhados sobre vacina russa

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Foto: Cadu Rolim/Fotoarena / Agência O Globo

Diante das informações insuficientes sobre o desenvolvimento da vacina russa contra a Covid, o Ministério da Saúde fará uma segunda reunião sobre o tema até semana que vem. Nesta terça-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou o registro do primeiro imunizante contra a doença. Na pasta da Saúde, no entanto, a ordem é para buscar mais dados sobre a droga antes de qualquer plano de aquisição.

Isso porque, segundo fontes da cúpula do Ministério da Saúde, o primeiro encontro com representantes da pesquisa russa, feito na terça-feira passada, foi marcado pela ausência de informações detalhadas. Para os técnicos da pasta, ficou a impressão de que a pesquisa tem sido conduzida de forma açodada.

Eles estranharam, por exemplo, os prazos citados para o desenvolvimento de determinadas etapas do estudo. Procedimentos que durariam de dois a seis meses, como etapas da pesquisa clínica, foram descritos como tendo sido concluídos em 20 dias, relatou um integrante da pasta. O número de voluntários também não ficou bem esclarecido.

A avaliação geral é que não foram apresentados todos os dados necessários para se ter um panorama completo dos estudos que resultaram na droga anunciada pelo governo russo. Por isso, a equipe técnica do Ministério da Saúde vai se reunir mais uma vez com representantes dos desenvolvedores do imunizante.

A nova rodada de conversas deve ocorrer até semana que vem. A ideia da pasta é se reunir com os representantes dos pesquisadores e integrantes da embaixada russa em Brasília. Na ocasião, pedirão dados mais aprofundados sobre o imunizante anunciado.

O Ministério da Saúde planeja agir de forma coordenada com o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), por meio do qual o governo paranaense quer fechar um acordo com a Rússia para produzir a vacina anunciada. Técnicos da pasta relataram que a mesma cautela adotada no governo federal será repetida pelo Tecpar.

Em nota, o Ministério da Saúde se restringiu a dizer que “está atento aos estudos e a todas as vacinas em desenvolvimento e garante que, assim que tiver acesso à vacina comprovadamente eficaz contra a Covid-19, os brasileiros terão acesso a ela”. Não respondeu ao questionamento sobre a avaliação que faz da vacina russa ou se pretende adquirir o produto.

Putin afirmou nesta terça-feira que a Rússia registrou a primeira vacina do mundo contra o novo coronavírus, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya de Moscou, após menos de dois meses de testes em humanos. Ela foi batizada de “Sputnik V”, em referência ao satélite soviético lançado em 1957 na órbita da Terra. O ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, afirmou que o teste imunológico mostrou eficácia e segurança.

Diante da corrida pelo descobrimento de uma vacina, a Organização Mundial de Saúde (OMS), pediu respeito às diretrizes estabelecidas para que uma vacina fosse criada com segurança. O temor da OMS, de cientistas e autoridades internacionais é de que, na corrida política pelo pioneirismo da criação do imunizante, etapas que garantam eficácia e segurança sejam negligenciadas. A China já havia aprovado outra vacina, desenvolvida pela CanSino Biologics, mas para uso restrito das Forças Armadas do país.

Com o anúncio da Rússia sobre a nova vacina, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que, até o momento, não recebeu nenhum pedido do laboratório responsável pelo desenvolvimento da droga para pesquisas ou registro do produto no Brasil.

A análise só começa a partir da solicitação do laboratório farmacêutico. No momento do registro, será verificado se a vacina “é fabricada e controlada dentro dos padrões de qualidade esperados” e avaliará “os dados de segurança e eficácia”. Até lá, a Anvisa disse, em nota, que não fará avaliação ou pronunciamento.

Na nota, a Anvisa reforçou que “qualquer medicamento ou vacina passa por três etapas fundamentais: 1) desenvolvimento exploratório, 2) pesquisa pré-clínica, 3) pequisa clínica (uso em humanos) e 4) registro. Após o registro, a vacina é monitorada no pós-mercado. A fase clínica serve para validar a relação de eficácia e segurança de um medicamento e também para validar novas indicações terapêuticas”.

Renata Mariz, O Globo

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