Buscas por fugitivos do presídio de segurança máxima de Mossoró entram no 7º dia

Compartilhe

Foto: Gustavo Brendo/Inter TV Cabugi

Por Leonardo Erys, César Tralli, da TV Globo e da GloboNews, g1 RN

As buscas pelos fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) entraram, nesta terça-feira (20), no sétimo dia. Rogério Mendonça e Deibson Nascimento escaparam da unidade na madrugada do dia 14 de fevereiro. Foi a primeira fuga de um presídio de segurança máxima no Brasil desde a criação do sistema, em 2006.

Pela manhã, o secretário nacional de Políticas Penais, André Garcia, iniciou uma inspeção na penitenciária para conferir se novas medidas de segurança estão sendo implantadas conforme o determinado.

Entre as medidas estão o reforço da estrutura de luminárias das celas, limpeza dos canteiros de obras existentes no presídio e reparação das câmeras com defeitos.

A suspeita é que os dois criminosos fugiram pela luminária de suas celas e usaram um alicate usado em uma das obras para cortar a grade que cerca o presídio (leia mais abaixo). E parte das câmeras do presídio estava com defeito.

Além da inspeção, a corregedora do sistema prisional federal, Marlene da Rosa, dá continuidade a uma investigação interna que apura eventual responsabilidades pelas duas fugas – se houve facilitação e/ou colaboração intencional de funcionários do presídio.

Força Nacional

Na segunda-feira (19), o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, autorizou o uso da Força Nacional para ajudar nas buscas. Segundo o Ministério da Justiça, serão enviados 100 homens e 20 viaturas para a região.

A tropa da Força Nacional sai de Brasília nesta terça-feira (20), em um grupo com 100 soldados, 22 viaturas e 1 caminhão. Eles devem chegar em Mossoró na próxima quinta-feira (22).

As equipes vão se juntar aos mais de 500 agentes, entre policiais federais, rodoviários federais – incluindo equipes de elite – e policiais locais (militares e civis) que trabalham para recapturar a dupla.

O reforço nas buscas foi pedido pelo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos, e acordado com a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra.

Entre as últimas informações sobre o possível paradeiro dos fugitivos, estão as investigações que apontaram que o último sinal obtido dos celulares que estavam sendo usados por eles foi no sábado (17), em uma área rural, perto da divisa do Rio Grande do Norte com o Ceará.

Os celulares foram roubados dos moradores de uma casa que foi invadida pelos detentos na sexta-feira (16), última vez em que eles foram vistos, na comunidade de Riacho Grande, a 3 quilômetros de distância da penitenciária. Os aparelhos celulares silenciaram desde sábado e a suspeita é de que as baterias tenham acabado.

Nesta segunda-feira, as forças de segurança intensificaram as buscas pelos fugitivos na região de Baraúna, cidade na divisa com o Ceará, onde o último sinal de celular foi obtido. As cidades de Baraúna e Mossoró são ligadas pela RN-015, estrada onde fica a penitenciária.

A possibilidade de que os fugitivos estejam na região mudou a rotina da comunidade Juremal, em Baraúna. Moradores e comerciantes relataram que estão com medo e têm fechado as casas e os comércios mais cedo do que de costume.

Os principais envolvidos na força-tarefa de recaptura acreditam que os dois criminosos permanecem na região e não conseguiram se distanciar dos arredores do presídio.

A operação conta com helicópteros, drones, cães farejadores e outros equipamentos tecnológicos sofisticados.

Em visita a Mossoró no domingo (18), o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, alegou que a complexidade do terreno é um ponto de dificuldade para os trabalhos. Também afirmou que não há prazo para a captura dos presos.

“O terreno é complexo, coberto por mata, em uma zona rural e com uma área extensa. Além de ter rodovias, existem vias e pequenas estradas. O local tem casas esparsas. É um trabalho de busca complexo”, disse Lewandowski.

Pistas encontradas próximas ao presídio

Na quarta-feira (14) – mesmo dia da fuga – uma outra casa foi invadida na zona rural de Mossoró, a cerca de 7 km da penitenciária. Objetos pessoais como camiseta e uma colcha de cama foram furtados.

A polícia foi acionada e fez buscas na área. Na quinta-feira (15) objetos foram encontrados em uma área de mata. Um dos moradores da região confirmou aos investigadores que, entre os itens, estava uma colcha de cama furtada de sua casa.

A Polícia Federal também recolheu material biológico desta casa. As amostras encontradas serão confrontadas com informações genéticas dos fugitivos.

Já na sexta-feira (16), com a ajuda de cães farejadores, uma camiseta de uniforme de presidiário foi encontrada na mata.

Fuga após retirada de luminária

O Fantástico mostrou como são, por dentro, as celas de onde os presos fugiram, e também a dinâmica da fuga. Os detentos – que estavam em celas individuais lado a lado – conseguiram escapar ao retirarem as luminárias das celas. Para isso, utilizaram pedaços de ferro.

A investigação trabalha com a hipótese de que os ferros podem ter sido retirados da estrutura da cela, como das paredes ou até debaixo de uma mesa – também de concreto. Os detentos também usaram uma mistura de sabonete e papel higiênico como uma espécie de reboco para camuflar os buracos feitos.

Após saírem da cela, eles entraram num espaço conhecido como ‘shaft’, onde passam dutos e a rede elétrica, e que deu acesso ao teto da penitenciária, de onde desceram para uma área externa.

Em seguida, cortaram a grade de arame do pátio – com um alicate, que a investigação acredita que estava na obra – e fugiram sem serem notados.

Os dois presos são do Acre e estavam na Penitenciária de Mossoró desde 27 de setembro de 2023. Eles foram transferidos após participarem de uma rebelião no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos – três deles decapitados.

Os dois homens são ligados ao Comando Vermelho, facção de Fernandinho Beira-Mar, que também está preso na unidade federal de Mossoró.

Rogério da Silva Mendonça é acusado de assaltos no Acre. Já preso foi acusado de mandar matar o adolescente Taylon Silva dos Santos, de 16 anos, em abril de 2021, quando já estava preso. Após o crime, Rogério foi transferido para o Presídio Antônio Amaro Alves, na capital, para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde ficou desde então, até ter sido transferido ao Rio Grande do Norte.

Rogério responde a mais de 50 processos. Ele é condenado a 74 anos de prisão, somadas as penas, de acordo com o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC).

Já Deibson Cabral Nascimento tem o nome ligado a mais de 30 processos e responde por crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e roubo. Ele tem 81 anos de prisão em condenações.

* Todos os comentários são de responsabilidade dos seus autores.