Pessoas que contraíram vírus de resfriado comum podem ganhar imunidade à Covid-19, diz estudo
Foto: NIAID-NIH
Pessoas que nunca foram infectadas pelo vírus Sars-CoV-2, o causador da Covid-19, podem possuir imunidade contra esse patógeno caso já tenham sido infectadas por outros tipos de coronavírus — que nunca foram monitorados em escala global, por serem patógenos que só causam resfriados mais amenos.
A descoberta está relatada em um estudo publicado nesta terça-feira na revista “Science” por um grupo americano de pesquisa.
O trabalho, liderado pelo biólogo colombiano José Mateus, do Instituto de Imunologia de La Jolla, na Califórnia, descreve como amostras de sangue coletadas antes de 2019, quando o Sars-CoV-2 ainda não estava circulando, foram capazes de reagir contra este vírus.
O tipo de resposta imune contra o patógeno, porém, não foi do tipo humoral, na qual anticorpos (moléculas de ataque) abordam o patógeno. Como cientistas já desconfiavam, ocorreu resposta de tipo celular, na qual linfócitos T, uma classe específica de células do sistema, atacam outras células infectadas.
Fazendo testes específicos, o grupo de Mateus identificou que o mesmo mecanismo de ataque que já existe em algumas pessoas contra o Sars-CoV-2 se aplicava aos outros coronavírus de resfriado, especificamente os vírus OC43, 229E, NL63 e HKU1.
Infecção prévia não garante imunidade
O estudo não significa que todas as pessoas já infectadas por esses vírus passem a estar protegidas contra a Covid-19, mas pode ajudar a entender a dinâmica da epidemia.
Segundo os pesquisadores, a “memória” imune gerada por essas células pode ajudar a explicar por que o impacto da Covid-19 varia mesmo entre pacientes com mesma faixa etária e perfil.
“A variedade de memórias de células T aos coronavírus que causam o resfriado comum pode estar por trás de pelo menos parte da heterogeneidade observada na Covid-19”, escreveram os cientistas.
Estudos anteriores estimaram que a quantidade de pessoas que podem ter algum tipo de imunidade celular contra o Sars-CoV-2 varia entre 20% e 50% da população geral, dependendo da localidade geográfica.
A imunidade detectada em linfócitos T avaliados na pesquisa era sobretudo contra a proteína da espícula dos coronavírs (spike, em inglês), que o micróbio usa para se acoplar a células humanas e invadí-las. A espícula é o principal alvo das vacinas e medicamentos que vêm sendo desenvolvidos contra a Covid-19.
Como pesquisas anteriores com anticorpos falharam em detectar esse tipo de “imunidade cruzada” entre o Sars-CoV-2 e os coronavírus de resfriado, a descoberta reforça a percepção de cientistas de que a imunidade de tipo celular é essencial para uma proteção mais geral contra essa classe de patógenos.
Rafael Garcia, O Globo
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