Mortos, eleitores com renda incompatível e desempregados aparecem como doadores de R$ 22 milhões, aponta TSE

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O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) identificou vários indícios de fraude no financiamento e prestação de serviços de campanha nestas eleições. As possíveis irregularidades ocorreram em casos como doações feitas por quase 4 mil desempregados, eleitores que nem sequer tinham renda suficiente para financiar candidatos e até pessoas já falecidas que contribuíram com as campanhas. Juntos, esses casos somam mais de R$ 22 milhões.

Há outros indícios de fraude, como 775 fornecedores sem registro de atividade comercial ou cadastro na Receita Federal (R$ 1,3 milhão) e 217 empresas cujos sócios têm algum parentesco com os candidatos (R$ 471 mil).

Foto: Aparecido Gonçalves/G1

Ao todo, os indícios de fraude somam 7 mil casos, segundo o TSE. As doações feitas por desempregados são as que mais chamam a atenção. Os repasses feitos por esses eleitores chegam a R$ 15,9 milhões. Já os doadores com renda incompatível (782 casos identificados) repassaram R$ 6,4 milhões para os candidatos. Por enquanto, foram identificadas cinco pessoas mortas, que constam do Sistema de Controle de Óbitos (Sisobi) e doaram R$ 6,8 mil para as campanhas.

O levantamento divulgado pelo TSE é fruto de uma parceria do Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral, que conta com seis órgãos federais, além do TSE. De acordo com o tribunal, as informações coletadas pelo núcleo serão repassadas agora para os juízes eleitorais. Eles poderão solicitar diligências para comprovar a procedência do indício e utilizar essas informações para julgar a prestação de conta dos candidatos.

Procurado, o TSE diz que não pode passar mais informações sobre as investigações “porque se trata de informação que ainda passará por apuração para atestar a procedência do indício”.

“As informações do Núcleo de Inteligência são tratadas em caráter reservado entre os parceiros institucionais, uma vez que são apenas indícios e que necessitam de apuração para verificar sua procedência ou não. Além disso, as regras aplicadas são restritas aos órgãos de fiscalização, de modo a preservar a forma de como os indícios são apurados.”

Professor do IBMEC, da Fundação Dom Cabral e autor do livro “Dinheiro, Eleições e Poder”, Bruno Carazza considera positiva a antecipação das investigações feitas pelo Núcleo de Inteligência e o compartilhamento das informações entre os diferentes órgãos.

“É muito bem-vindo que diferentes órgãos de controle estejam unindo esforços para fiscalizar as doações e os gastos de campanha. Como cada órgão é ‘dono’ de uma base de dados distinta, ter representantes de todas essas instituições numa força-tarefa é muito importante para o cruzamento de dados e a identificação de comportamentos suspeitos que merecerão uma atenção especial da Justiça”, observa Carazza.

Com relação aos indícios de possíveis fraudes, o professor observa que parte do problema pode estar relacionado a um erro de preenchimento das informações apresentas pelos candidatos, mas ele alerta para o fato de um grande número de pessoas sem renda suficiente ou desempregadas aparecerem como doadores.

“Parte dos erros pode vir de erros de digitação, pois nosso sistema de prestação de contas ainda é autodeclaratório e, portanto, passível de equívocos. Mas quando os órgãos de controle identificam doações de milhares de reais sendo feitas por CPFs inscritos nos cadastros de programas sociais ou de pessoas desempregadas, acende-se a luz de alerta que ali há uma alta probabilidade de uso de laranjas, por exemplo”, diz Carazza.

Para ele, a luz amarela também precisa ser direcionada para os casos das despesas elevadas pagas a prestadores de serviço com baixo faturamento ou considerados inativos.

“Também é preciso estar atento para despesas de campanha de valores muito elevados sendo realizadas junto a empresas com faturamento baixo ou até mesmo inativas. Já tivemos muitas denúncias assim no passado, e os órgãos de controle têm plena condição de identificar previamente essas situações, que podem ocultar esquemas de lavagem de dinheiro”, diz.

Por Fábio Vasconcellos e Gabriela Caesar, G1

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