UTIs do Rio Grande do Norte voltam a ter 50% de ocupação

Compartilhe

Bruno Vital

Com 358 mil pessoas que não tomaram nenhuma dose da vacina anticovid e 221 mil que não retornaram para receber a D2, o Rio Grande do Norte voltou a ultrapassar 52% de ocupação de leitos críticos para tratamento da covid-19 na manhã de quarta-feira (3), o que não acontecia há três meses e meio, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap). De acordo com levantamento da pasta no mês passado, que acompanhou a evolução clínica de pacientes, com quadro finalizado por alta médica ou óbito, de 164 internações, 108 eram de pacientes que não tomaram a vacina, o que representa 65% do total.

Para os especialistas, o cenário ainda é confortável, mas a recusa da vacina ameaça o controle da pandemia. A última vez que o estado registrou mais de 52% de ocupação foi no dia 16 de julho, quando 192 pessoas estavam internadas (53,78%).  Atualmente 92 pacientes permanecem em tratamento nos leitos covid. A diferença entre os dois cenários é de que em julho o estado disponibilizava 357 leitos e hoje 194 estão disponíveis, devido à “reversão” de leitos exclusivos covid para outras doenças.

De acordo com a pasta, aproximadamente 100 leitos foram revertidos para UTI geral. O pesquisador Leonardo Lima, do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN), destaca que, apesar do aumento, os índices da pandemia permanecem baixos em virtude da vacinação. “O estado chegou a ter 431 leitos operacionais, hoje conta com 177 e como são números baixos, qualquer internação relacionada ao coronavírus vai ter um grande impacto no percentual de ocupação. O importante é transmitir a mensagem para a população de que a vacinação tem contribuído para a queda de casos e óbitos”, comenta.

O pesquisador, que é doutor em imunologia básica e aplicada, acrescenta ainda que a grande maioria dos potiguares internados não foram vacinados ou não completaram o esquema vacinal. Até a manhã de ontem (3), a plataforma RN Mais Vacina, da Sesap, mostrava que 358.403 pessoas maiores de 18 anos, aptas a se vacinarem, não procuraram os postos para receberem os imunizantes. A meta da Saúde estadual era aplicar ao menos uma dose em toda a população adulta até setembro (2.657.700 potiguares), mas até agora 2.299.297 entraram na campanha de vacinação anticovid (86%).

“Existem vários aspectos que podem estar contribuindo para essa recusa da vacinação. Nesse sentido, um aspecto que a gente tem observado nesses potiguares que não tomaram nenhuma dose é a questão política. A pandemia não tem sido tratada de forma técnica, com uma mensagem única para a população, especialmente por parte do governo federal e isso tem confundido bastante as pessoas”, explica Leonardo Lima.

Outro fator que desperta a preocupação dos cientistas da área é a presença da variante Delta, considerada mais transmissível por apresentar múltiplas mutações genéticas. No Rio Grande do Norte, o Lacen-RN identificou 173 casos confirmados e dois óbitos causados pela nova cepa. Por ser tão transmissível quanto a catapora, o surgimento da variante atrapalha a previsão de cenários, segundo o epidemiologista Ion de Andrade.

“A situação não está resolvida em definitivo. Esse é um cenário novo em que a gente, por conta da existência de uma variante e por conta da haver um esforço no avanço da vacinação, está diante de uma situação em que é difícil fazer prognóstico, por exemplo, de se nós não vamos ter uma explosão de casos da variante Delta, como aconteceu na Inglaterra, ou se teremos uma decrescência de casos até chegarmos a uma situação de maior conforto. Fato é que as pessoas não se vacinarem contribui muito para a construção de um cenário negativo”, explica.

O médico ressalta que os meses de novembro e dezembro darão o tom da pandemia em 2022 e que mesmo em caso de aumento de infecções, os índices de óbitos e internações deverão se manter estáveis por causa da vacinação. “No ano passado, as aglomerações do fim de ano produziram um aumento expressivo no número de casos. Esses próximos meses vão servir como um observatório de como a epidemia vai ser comportar no ano que vem. De qualquer maneira, eu acho que a gente vai estar liberado do mais preocupante, que são os casos graves e óbitos porque a gente não sabe ainda se vamos ter explosão da Delta, como aconteceu em outros países, e também pela vacinação”, afirma Ion de Andrade.

Atraso na segunda dose

Em todo estado, 221.444 potiguares não retornaram para tomar a segunda dose da vacina (D2) ou não compareceram para receber dose de reforço (D3). Natal lidera o ranking dos atrasados com 60.642 pessoas, seguido de Mossoró (20.938), Parnamirim (16.519), São Gonçalo do Amarante (7.103) e Macaíba (6.847). Desse total, cerca de 70% são homens, detalha a Sesap. A pasta orienta que os municípios “façam a busca ativa em seus territórios, que é quando a equipe vai até a pessoa para auxiliar e dialogar sobre a importância de completar o esquema vacinal, que é quando realmente a pessoa é considerada imunizada”.

O imunologista Leonardo Lima aponta que as pessoas com a D2 em atraso devem procurar os postos de vacinação independentemente do prazo excedido. “Busquem as unidades de saúde para tomar sua segunda dose, não importa se faz cinco dias, uma semana, um ou dois meses. É importante para ficar completamente imunizado”, diz.

Em nota enviada à reportagem da TRIBUNA DO NORTE, a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte informou que, após reunião com representantes do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do RN (Cosems) e Ministério da Saúde, encaminhou orientações para que os municípios ampliem horários de vacinação e preparem um Dia D de estímulo. Além disso, a Sesap comunicou que incentiva “fechar parcerias com os comerciantes locais, donos de bares e restaurantes, para estimular a vacinação; fazer busca ativa nominal de todos os atrasados e estimular premiação entre os vacinados”, diz trecho da nota.

Vacinação é reduzida e casos crescem

A aplicação de doses da vacina contra a covid caiu 45% entre os dias 1 e 26 de outubro, em comparação com o mesmo período de setembro, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Até o dia 26 de outubro, foram aplicadas 365.931 doses, pouco mais da metade dos imunizantes aplicados entre 1º e 26 de setembro: 664.749. No mesmo intervalo de tempo de agosto, 768.979 doses tinham sido aplicadas. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Rio Grande do Norte (Sesap), a redução deve-se ao baixo índice de procura da população pelas vacinas.

O número de casos da doença aumentou em outubro no comparativo com o mês anterior. Foram 5.065 casos, cerca de 1,5 mil a mais do que os contabilizados em setembro (3.586). Por outro lado, outubro foi o mês com menos mortes registradas por covid desde abril de 2020, quando a pandemia estava começando no estado. Atualmente, o Rio Grande do Norte soma 7.401 mortes e 373.926 casos confirmados de covid-19. Os dados são dos boletins epidemiológicos divulgados diariamente pela Sesap.

Tribuna do Norte

Sair da versão mobile