Um estudo da Universidade de Pelotas, nos municípios que reúnem um terço da população brasileira, mostrou que os números do coronavírus podem ser até seis vezes maiores do que os dados oficiais.
O estudo entrevistou quase 90 mil pessoas em 133 cidades em todos os estados e no Distrito Federal. De forma aleatória, os entrevistados tiveram de fazer um teste rápido para identificar a presença ou não de anticorpos no organismo: 2.064 testaram positivo. Dessas, apenas 9% não tiveram nenhum sintoma.
Com base nesses dados, os pesquisadores fizeram um retrato da pandemia nas cidades pesquisadas. E concluíram que, dos entrevistados em maio, 1,9% já tinham tido coronavírus. O percentual subiu para 3,1% na segunda fase, no início de junho, e 3,8% na terceira fase da pesquisa, no fim de junho. Também nas cidades pesquisadas: de cada 100 pessoas que têm o vírus, uma morre.
Outra análise mostra a diferença da incidência do coronavírus nas classes sociais. Pelos números apresentados, pessoas de classes mais baixas, onde é mais difícil fazer isolamento social, tiveram mais contato com o vírus que as pessoas de classes mais altas.
“Se nós pegarmos o dado de basicamente qualquer uma das fases, os 20% mais pobres da população tem o dobro da infecção do que os 20% mais ricos da população. E esse resultado é bastante consistente ao longo das três fases da pesquisa. Uma grande explicação que pode ser dada é a questão da aglomeração, da quantidade de cômodos, números de moradores, que são questão de pesquisas que nós vamos explorar ao longo das próximas semanas e meses”, diz Pedro Hallal, pesquisador da UFPel.
O quadro apresentado pelo estudo mostra a realidade nas mais de 100 cidades pesquisadas, onde mora um terço da população brasileira. Os pesquisadores fizeram um alerta: o número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus pode ser até seis vezes maior do que o registro oficial. Para fazer uma análise da situação no país, os pesquisadores explicaram que é preciso mais estudos.
Além disso, especialistas afirmam que o novo coronavírus ainda estará presente no Brasil por muitos meses.
Wanderson Oliveira, ex-secretário de Vigilância do Ministério da Saúde, disse que, em março, quando fazia parte da equipe do então ministro Henrique Mandetta, as projeções internas do ministério já sinalizavam 100 mil mortes em setembro caso medidas de combate ao vírus não fossem tomadas; que, diante disso, prefeitos e governadores devem avaliar sempre o grau de abertura do comércio e serviços.
“O uso de máscara, pelo menos durante o inverno, ou neste período em que nós tivermos ainda a transmissão do vírus, ele vai permanecer até dezembro, até novembro. A máscara virou um acessório pessoa, nós temos que conviver com ela. Mas não é qualquer máscara: tem que ser lavada com frequência, tem que ser usada corretamente. A associação do uso de máscara, do isolamento social, principalmente dos sintomáticos, e do monitoramento dos contatos, junto com a cultura social da abertura, do distanciamento, seja nos bares, restaurantes, locais públicos e tal, a gente tem a possibilidade de evitar mais transmissões; e evitando mais transmissões, eu evito óbitos. É por aí que a gente consegue”, diz o epidemiologista Wanderson Oliveira.
Por Jornal Nacional