Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Dimitrius Dantas, O Globo
O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira que irá mudar a logística de distribuição das primeiras doses da vacina contra a Covid-19 para garantir que todos os estados terminem a aplicação dos primeiros imunizantes. Durante entrevista coletiva, o ministro Marcelo Queiroga também criticou estados que estão alterando os prazos da aplicação da segunda dose. Segundo ele, se isso continuar ocorrendo, a pasta não terá como entregar as doses necessárias.
A mudança na metodologia de distribuição de vacinas ocorre em meio a uma polêmica com o governo de São Paulo, que reclamou publicamente de ter recebido menos doses da Pfizer. Nesta terça-feira, o ministro Ricardo Lewandowski proferiu decisão em que determinou que o Ministério da Saúde entregue as doses necessárias para a segunda dose naquele estado.
— Estamos vacinando, no estado de São Paulo, adolescentes, e em outros estados ainda não conseguimos chegar na faixa etária de 18 anos. Cumpre ao Ministério da Saúde equilibrar. O mesmo compromisso que o Ministério tem para com os brasileiros que residem em São Paulo, o Ministério tem com os brasileiros que residem no estado do Pará — afirmou.
Segundo o Ministério, o critério estabelecido para a nova metodologia de distribuição irá obedecer ao número de pessoas acima de 18 anos em cada estado que ainda não recebeu vacinas. Esse número é obtido pela subtração da população total acima de 18 anos pelas doses distribuídas até o momento.
São Paulo, por exemplo, tem 22% da população adulta do Brasil, mas recebeu 24% das doses distribuídas até agora, por exemplo. Já o Rio, recebeu 8,0% das doses distribuídas até o momento, mas tem 8,48% da população total. Segundo o ministro Queiroga, o objetivo é fazer um ajuste fino nessas entregas para que todos possam finalizar a vacinação ao mesmo tempo.
Durante entrevista coletiva, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), questionou a decisão do Ministério.
— Se o Ministério da Saúde deseja acelerar a vacinação em outros estados, o que eu vejo com bons olhos, providencie mais vacinas, compre mais vacinas e ofereça mais vacinas àqueles estados que precisam acelerar a vacinação e não suprima a vacina dos estados que estão acelerando a vacinação — afirmou.
A mudança deve valer já a partir das próximas entregas de vacinas. De acordo com o ministério, a medida foi acordada entre representantes da União, estados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e municípios pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
No último dia 27, o Ministério e os dois conselhos afirmaram que a compensação gradual das vacinas seria realizada de modo que todos os estados deverão finalizar o processo de imunização sem que haja benefícios ou prejuízos a suas respectivas populações.
Durante a entrevista, Queiroga destacou que a vacinação em São Paulo avançou de forma mais rápida porque no estado há mais pessoas encaixadas dentro do grupo prioritários, como trabalhadores de saúde. Além disso, o ministério voltou a afirmar que o governo paulista obteve diretamente do Instituto Butantan mais doses do que o previsto, cerca de 300 mil. A acusação já foi negada pelo governo paulista. Nesta quarta-feira, o ministro Marcelo Queiroga admitiu que a pasta errou ao tentar compensar o excesso de CoronaVac encaminhado para São Paulo com a redução de entrega de vacinas Pfizer, o que motivou a discussão entre Doria e o ministro.
A mudança ocorre para que o governo consiga cumprir sua meta de ter 75% da população adulta vacinada com duas doses até outubro.
— São Paulo não recebeu mais doses do que deveria. Recebeu a quantidade de doses adequada para a imunização do grupo prioritário. O que a gente precisa fazer é calibrar isso para que todos os estados recebam também de forma adequada para imunização de todos os brasileiros — disse o secretário-executivo Rodrigo Cruz.
Na prática, o ministro afirmou que estados que já estão vacinando adolescentes sofrerão ajustes no recebimento de doses.
— As doses não são específicas para adolescentes. A vacina para adolescentes é a da Pfizer. Vai haver ajustes em função da necessidade de avançar de maneira equânime nos outros estados. Os estados vão continuar recebendo vacinas, vão aplicar a segunda dose. Esses estados vão receber dose para terminar a imunização. Lembrar que temos a variante Delta, que é uma variável nova — afirmou Queiroga.
O ministro também criticou estados que estão alterando as regras de aplicação das segundas doses das vacinas. O ministro pediu para que governadores respeitem os prazos definidos pelo plano de imunização. A perspectiva do Ministério é de que em setembro será possível diminuir o intervalo entre doses da vacina da Pfizer para 21 dias.
Terceira dose em estudo
O ministro também repetiu que o Ministério estuda a aplicação da terceira dose de outras vacinas, mas ainda aguarda estudos científicos sobre o tema.
Queiroga afirmou, após a entrevista, que a urgência principal é a diminuição do intervalo entre doses da Pfizer.
— Diminuir o prazo da Pfizer vai assegurar que a terceira dose aconteça mais rápido, só que a tomada de decisão de terceira dose depende de evidência científica. Todos nós queremos condutas baseadas em evidências científicas. Então vamos tomar decisões em evidência científica — afirmou.
Segundo o ministro, após o resultado dos estudos, a tendência é que a aplicação da terceira dose siga a mesma regra da campanha de imunização, começando pelos grupos prioritários, como trabalhadores de saúde e idosos.
— Já encomendamos um estudo para verificar a estratégia da terceira dose naqueles que tomaram a CoronaVac. Em relação aos outros imunizantes, já temos dados balizadores dessa conduta. Vamos ter as respostas e tomaremos a conduta. Como será a terceira dose: vamos começar pelos grupos prioritários, profissionais de saúde, idosos, que sabemos que tem um sistema imunológico mais comprometido — afirmou o ministro.
Na cidade de São Paulo, a prefeitura iniciou, por exemplo, o cadastro para que a população receba a segunda dose da chamada “xepa”, doses que sobram no final do dia da vacinação e correm risco de perder a validade.
— É fundamental que se observe o espaço entre as doses para que consigamos entregar as vacinas com a pontualidade desejada. Se cada estado, cada município, resolver ter a sua própria regra, o Ministério da Saúde não consegue entregar as vacinas com a tempestividade devida, e isso atrasará nossa campanha nacional de imunização — afirmou.