Foto: Gustavo Guedes/IBGE
O IBGE iniciou na quarta-feira (17) o Censo Demográfico nas comunidades quilombolas do Rio Grande do Norte, seguindo um calendário nacional.
Lideranças do território Capoeiras, em Macaíba, na Grande Natal, receberam a chefia estadual do IBGE e a coordenação do Censo em um encontro que marca um novo momento na história das comunidades tradicionais.
Pela primeira vez, a maior pesquisa do Brasil vai perguntar: “você se considera quilombola?”. O quesito vai abrir nos dispositivos de coleta dos 38 recenseadores treinados para trabalhar nessas áreas no RN.
Além disso, haverá a possibilidade de informar a qual comunidade a família pertence.
“Acho que é importante e positivo, porque a gente é o que a gente se reconhece na verdade”, afirmou Maria Barbosa, liderança do território, no encontro com a equipe do IBGE no Ponto de Cultura Quilombola Baobá.
Para o chefe da Unidade Estadual do IBGE no Rio Grande do Norte, Damião Ernane de Souza, a produção de estatística oficial é uma conquista dos povos e comunidades tradicionais.
“Isso faz parte de toda uma luta das comunidades quilombolas, trazer visibilidade para os povos originários brasileiros e retratar a nação”, falou.
De acordo com Maria Barbosa, a nova pergunta do Censo faz parte de um conjunto maior de vitórias.
“O movimento que foi feito antes está sendo refletido hoje na juventude. Você vê que as pessoas hoje se reconhecem mais, usam mais seu cabelo, reconhecem mais sua negritude, os jovens se empoderam enquanto negros. Isso graças à luta de tempos atrás”, considerou.
O Censo começou dia 1º de agosto e o IBGE estima que vai visitar 1,1 milhão de domicílios no RN.
Recenseador quilombola
Em Capoeiras, o estudante de Educação Física João Neto, de 36 anos, é o responsável pelas entrevistas do Censo. Ele mora no local e se considera quilombola.
“Agora a gente tá tendo essa oportunidade de saber quantos somos, como vivemos e a quantidade de famílias que temos aqui. É uma expectativa enorme não só pra mim, mas para os que moram na comunidade”, declarou o recenseador.
Para o chefe do IBGE no RN, sempre que possível, a área de trabalho do recenseador é próxima de sua casa.
Mobilização prévia
Nas áreas quilombolas, existem procedimentos especiais para o Censo, como uma reunião preparatória.
“A gente indica que o recenseador ou que o supervisor procure uma primeira abordagem com a liderança quilombola para que ele explique como vai ser feito o trabalho de recenseamento na região e ajude na abordagem”, explicou José Xavier Júnior, coordenador técnico do Censo no RN.
Fora das comunidades, o cidadão também pode informar que seu domicílio é quilombola em qualquer momento da entrevista.
Origem de Capoeiras
Formada por cerca de 400 famílias, segundo a liderança local, o Território Quilombola Capoeiras é um dos mais antigos do Rio Grande do Norte.
“A gente tem um registro da comunidade do ano de 1734, mas não se sabe se a comunidade começou nessa data”, contou Maria Barbosa.
O surgimento aconteceu depois que pessoas se libertaram da escravização, no Engenho Ferreiro Torto, em Macaíba. “[Capoeiras] Era um espaço de difícil acesso e eles conseguiram ficar aqui e abrir clareiras no mato”, acrescentou.
Barbosa destaca um líder fundador, João das Capoeiras. “Ele ficou sendo como um salvador, um irmão do quilombo”, conta.
Por g1 RN