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Por Igor Jácome, G1 RN
A violência aumentou no Rio Grande do Norte, ao longo do primeiro semestre de 2020, na comparação com o primeiro semestre de 2019, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020, lançado pela Fórum de Segurança Pública segunda-feira (19). O estudo buscou levantar o impacto da pandemia do coronavírus sobre os dados da segurança pública neste período.
Para os pesquisadores, embora as previsões mais pessimistas não tenham se concretizado, o Brasil voltou a registrar aumento de mortes e perdeu “uma grande oportunidade de transformar a tendência de redução das mortes violentas intencionais observada entre 2018 e meados de 2019” em algo permanente.
De janeiro a julho, o estado registrou aumento superior a 11% nas mortes violentas intencionais, que envolvem casos de homicídios, latrocínios, e também de mortes por intervenção das polícias. Já os estupros de vulneráveis tiveram crescimento de 47,5% e a lesão corporal e a ameaça contra mulheres também registraram altas.
Os números ficaram na contramão dos dados totais de 2019 – ano em que o estado apresentou redução de mortes letais intencionais pela segunda vez consecutiva e registrou o menor número de vítimas da violência desde 2012, por exemplo.
Primeiro semestre violento
No primeiro semestre de 2020, os dados apontam um crescimento superior a 11,8% nas mortes violentas intencionais, que chegaram a 797 contra 713 no mesmo período de 2019. O aumento é maior que a média nacional, que ficou em pouco mais de 7%.
O número de homicídios dolosos aumentaram 12,1% no estado, passando de 535 de janeiro a julho de 2019 para 600. Ainda no mesmo período, a quantidade de latrocínios, que são os roubos seguidos de morte, passou de 32 para 39 – aumento de 21,9% – na contramão do resultado nacional, que foi de queda de 13,6%.
Também no período, enquanto a morte de policiais em serviço caiu 50% (de 2 casos, reduziu para 1), o número de pessoas que morreram em intervenções policiais aumentou de 63 para 85 no semestre – um incremento de 34,9%.
Violência doméstica
O número de feminicídios caiu mais de 28% no período, por outro lado a violência doméstica aumentou no semestre. Enquanto o Brasil reduziu o número de lesão corporal dolosa contra vítimas do sexo feminino em 9%, o Rio Grande do Norte aumentou 13,6%, passando de 952 no primeiro semestre de 2019 para 1.081 no primeiro semestre de 2020.
Na mesma linha, enquanto o país reduziu o número de ocorrências de ameaça contra mulheres em mais de 15%, o estado aumentou o número de casos de 1.265 para 1.612 (aumento de 27,4%). Já os estupros aumentaram 5,9%, passando de 204 para 216. Dentro dos casos, porém, houve uma “explosão” de estupro de vulneráveis entre as mulheres. Foram 118 ante 73 no mesmo período de 2019 – crescimento de 61,6%.
Ao todo, o número 190 recebeu 1.711 chamados sobre crimes de violência doméstica no semestre, de acordo com o anuário.
Roubos
Embora tenha registrado redução de quase 2% no número de roubos de veículos e de quase 20% no total de roubos, o estado registrou praticamente o dobro do número de pessoas roubadas nas ruas. O número passou de 3.205 em 2019 para 6.344 em 2020 – aumento de quase 98%.
Já o número de roubos a estabelecimentos subiu de 260 para 472, em um crescimento de 81,5%. Os roubos a residências também tiveram aumento significativo, passando de 394 para 659 (+67,3%).
O estado ainda registrou aumento de 57% nos casos de tráfico de drogas.
De acordo com o levantamento, o Rio Grande do Norte registrou redução de 26,5% no número de mortes violentas intencionais de 2019, quando foram registradas 1.426 vítimas, ante 1.926 em 2018. A taxa de morte caiu de 55,4 por 100 mil habitantes para 40,7. Foi a quinta maior redução entre os estados brasileiro. Na prática, foi o menor número de mortes violentas em sete anos.
No mesmo período, o número de mortes violentas em atuações policias aumentou de 134 para 165 (22,2%), enquanto o número de policiais vítimas da violência reduziu 51%, saindo do patamar de 25 em 2018 para 12 em 2019. Entre todos os estados brasileiro, o RN tem a sétima maior taxa de casos de mortes em intervenções policiais, com 4,7.
O feminicídio caiu 25% no estado, em 2019, embora o número de mulheres vítimas da violência tenha aumentado. No ano, o número de estupros e tentativas de estupro aumentou 58,7%, passando de 315 para 504 casos.
Estado tem maior taxa de injúria racial
Ainda de acordo com o estudo, o Rio Grande do Norte tem a maior taxa de casos de injúria racial do país. São 50,3 casos por 100 mil habitantes, com tendo sido registrados 1.765 casos em 201. Para se ter uma ideia da discrepância com outros estados, Santa Catarina, que teve a segunda maior taxa, ficou com índice 25. No entanto, o RN registrou apenas sete casos de racismo.