José Aldenir/Agora RN
Os cartórios do Rio Grande do Norte já registraram este ano, até esta sexta-feira (17), 8.788 óbitos, segundo dados do Portal da Transparência da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen).
O número de mortes causadas por problemas respiratórios foi impactado pelo surgimento da Covid-19. A doença causada pelo novo coronavírus, segundo os cartórios, foi responsável por 1.032 mortes, o que corresponde a 11% do total de óbitos entre os potiguares.
O número é inferior ao registro oficial de mortes por Covid-19 feito pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), que contabilizaram até esta sexta 1.526 provocadas pelo novo coronavírus no Estado.
Essa diferença é explicada por duas razões, segundo os cartórios. A primeira é que o sistema é abastecido com informações enviadas pelos próprios cartórios. Alguns podem levar dias para informar o óbito ao sistema nacional. Além disso, as mortes causadas pela Covid-19 podem levar muito tempo para serem confirmadas pelo governo estadual. Com isso, é possível que certidões de óbito sejam expedidas incompletas.
De acordo com a Sesap, além dos óbitos confirmados, o Rio Grande do Norte tem 261 mortes em investigação para Covid-19.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a diferença encontrada no momento justifica-se pelo fato de que os óbitos podem levar até 60 dias para entrar nos cartórios ou sistema de mortalidade. Além disso, quando não há comprovação da Covid-19 antes do óbito, a causa apontada é de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), até que seja definido o agente etiológico responsável pela mortalidade. “Ressalta-se que, quando ocorre a identificação, posteriormente é gerada a alteração da informação que consta na declaração de óbito”, explicou a Sesap, em nota.
Entre 29 de março – data da primeira morte causada pela Covid-19 no Estado – e o dia 17 de julho, segundo o Arpen, um total de 5.119 mortes foram registradas nos cartórios potiguares. A Covid-19 representa 20% de todos os óbitos no período, com os 1.032 registros. É a principal causa de mortes em todo o Estado.
Os dados dos cartórios potiguares mostram que o mês de junho, até o momento, foi o que contabilizou a maior parte dos registros de mortes por Covid-19. Ao todo, foram 644 mortes notificadas pelas unidades cartorárias. No mês de maio, foram 213 registros. Nas duas primeiras semanas de julho, o número foi de 126 mortes. Há ainda os 49 óbitos registrados entre os dias 29 de março e 30 de abril.
No entanto, de acordo com o ranking cartorial, a doença causada pelo novo coronavírus fica atrás do termo “demais óbitos”. Isso acontece porque no sistema do portal transparência da Arpen são cadastradas as declarações de óbito, mas não há especificação de todas as causas de morte. Com isso, parte dos registros está listada sem detalhamento. No período entre 29 de março e 17 de julho, os “demais óbitos” somaram 1.573 registros.
Média móvel em queda
Os dados do portal da transparência dos cartórios mostram tendência de queda na média móvel de registros de óbitos por Covid-19 no Rio Grande do Norte. Desde o dia 8 de julho, no Estado, a curva de mortes está recuando, saindo de 38 registros diários para os 22 registros do último dia 15 de julho.
A redução ocorre ao mesmo tempo em que entra em vigor o processo de reabertura das atividades da economia. As ações de flexibilização do isolamento social, com a reabertura do comércio e serviços, foi iniciado na primeira semana de julho.
O recuo no número de mortes por Covid-19 também é observado a partir dos números gerais, ao se comparar as duas primeiras semanas de julho com o mesmo período do mês anterior. Entre os 1º e 15 de julho, os cartórios registram 126 mortes por Covid-19. No mesmo período de junho, o número foi 65% maior, com o total de 360 mortes.
Aumento de mortes
Os dados da Arpen mostram que houve um aumento de 51,8% nos registros de óbitos por doenças respiratórias — pneumonia, síndrome respiratória aguda grave (SRAG), insuficiência respiratória e Covid-19 — no período de 29 de março a 17 de julho de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.
Em 2020, os problemas respiratórios foram responsáveis por 2.355 óbitos, contra os 1.551 de 2019, de acordo com os dados dos cartórios. A diferença foi causada por conta da Covid-19, com os 1.032 registros deste ano.
Além disso, a crise sanitária provocada pelo novo coronavírus evidenciou o problema da desigualdade social. Os registros de óbitos feitos pelos cartórios mostram que o registro de mortes por problemas respiratórios entre a população que se declara preta ou parda cresceu mais do que a da população autodeclarada branca durante a pandemia.
Entre março e julho, a população preta ou parda viu crescer 71% os óbitos por esse tipo de doença em comparação com o mesmo período de 2019. Já entre os autodeclarados brancos, o aumento foi de 39%.