Paulo H. Carvalho
Por Ana Cristina Campos – Repórter da Agência Brasil
Cinco estados registraram, juntos, 409 feminicídios em 2021, ou seja, assassinato de mulheres cometidos em função da vítima ser do gênero feminino. A constatação é da Rede de Observatórios da Segurança, que monitora a violência nos estados de São Paulo, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Ceará.
O boletim “Elas Vivem: dados da violência contra mulheres”, divulgado hoje (10), aponta 1.975 casos de violência contra a mulher (incluindo os feminicídios) no ano passado nos cinco estados. Segundo o estudo, um caso de violência contra a mulher é registrado a cada cinco horas e todos os dias uma mulher morre por ser mulher nos estados monitorados. Em 65% dos casos de feminicídios e 64% dos casos de agressão, os criminosos são companheiros da vítima.
São Paulo teve aumento de 27% de registros em relação ao ano passado e chegou a 929 eventos monitorados: 157 feminicídios, 501 agressões e tentativas de feminicídios e 97 estupros.
Atrás de São Paulo vem o Rio de Janeiro, que tem um caso de violência contra a mulher a cada 24 horas. Foram 375 casos de feminicídio e violência contra a mulher com 456 tipos de violência (um único evento pode ter mais de um tipo de violência). O estado apresentou um crescimento de 18% nos registros em um ano.
Pernambuco aparece na sequência com 311 registros de crimes contra mulheres. Segundo a Rede de Observatórios, é o estado do Nordeste com o maior número de casos e o segundo entre os cinco estados em feminicídios, com 91 registros.
Na Bahia, há um caso de violência contra a mulher a cada dois dias. No entanto, houve queda de 31% nos registros da Rede. “Porém, quando analisamos os tipos de violência sofridas por essas vítimas, podemos ver que não há grande variação quando se trata de feminicídio: foi de 70 em 2020 para 66 casos em 2021”, diz o levantamento.
O Ceará apresentou queda de 20% nos casos de violência contra a mulher. No estado, foram registrados 160 casos de violência contra a mulher.
Quando a motivação das agressões e mortes são informadas, as três maiores causas apontadas são brigas (28%), término de relacionamentos (9%) e ciúmes (8%).
“Boa parte dos crimes contra mulheres divulgados nos jornais (85%) não traz a informação racial da vítima. Mas quando desconsideramos os casos em que a cor da vítima não é informada, temos 50,7% das vítimas negras, 48,6% brancas e 0,7% indígena. Algo nítido para as pesquisadoras da Rede é que quando se trata de mulheres brancas e de classes mais abastadas a cobertura jornalística tende a ser mais completa,” diz a pesquisa.
O Ceará é o primeiro do ranking, pelo segundo ano, com 11 mortes de pessoas trans e registra a mais jovem vítima de transfobia no Brasil até hoje: Keron Ravach foi morta aos 13 anos ao cobrar uma dívida.
Transfeminicídios
De acordo com a rede, Pernambuco é o segundo estado em transfeminicídios com dez casos monitorados. “No último ano, no período de menos de um mês, quatro mulheres trans negras foram atacadas e mortas. Uma delas, Roberta da Silva, teve 40% do corpo queimado”, aponta o estudo.
“Usar o termo transfeminicídio é crucial, pois assim se reconhece que são mulheres expostas ao feminicídio e à transfobia, que passa a ser encarada como uma problemática social. A sociedade que não reconhece nossos corpos não vê como a violência nos afeta”, afirmou, em nota, a pesquisadora Dália Celeste, do Observatório da Segurança de Pernambuco.
Os dados do boletim são produzidos de maneira independente a partir de um monitoramento do que circula nos meios de comunicação e nas redes sociais sobre violência e segurança. Segundo a rede, todos os dias, as pesquisadoras conferem dezenas de veículos de imprensa, coletam informações e alimentam um banco de dados que posteriormente é revisado e consolidado. São dez categorias de crimes contra mulheres: tentativa de feminicídio e feminicídio são os maiores registros no banco.
Após dois anos operando na produção de dados em cinco estados, a Rede de Observatórios, projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com apoio da Fundação Ford, chegou ao Maranhão e ao Piauí no segundo semestre de 2021.