Por Marcela Mattos, Beatriz Borges e Sara Resende, G1 eTV Globo
O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, abriu a sessão desta terça-feira (10) com um discurso em que criticou o desfile militar organizado pela Marinha para entregar um convite ao presidente Jair Bolsonaro. Aziz disse que foi uma “cena patética”, que evidenciou “fraqueza” de Bolsonaro. Aziz disse ainda que “não haverá golpe contra a democracia”. Outros senadores também criticaram o ato militar.
O convite que a Marinha entregou é para Bolsonaro participar de um exercício militar em Formosa, cidade goiana do Entorno de Brasília. O exercício ocorre todo ano, desde 1988, e o presidente da República da vez geralmente é convidado.
Só que não é usual, no ato do convite, a Marinha passar com mais de 30 veículos militares na frente do Palácio do Planalto, como ocorreu nesta manhã.
O ato militar ocorreu no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados tem previsão de votar no plenário a proposta do voto impresso, defendida por Bolsonaro e aliados. A proposta já foi derrotada na comissão especial, e a expectativa é que perca também no plenário.
Entre os parlamentares, a demonstração da Marinha foi vista como tentativa de intimidação.
“Bolsonaro imagina com isso estar mostrando força, mas na verdade está evidenciando toda a fraqueza de um presidente acuado pelas investigações de corrupção”, afirmou Aziz.
“Todo homem público, além de cumprir suas funções constitucionais, deveria ter medo do ridículo. Mas Bolsonaro não liga para nenhum desses limites, como fica claro nessa cena patética de hoje, que mostra apenas uma ameaça de um fraco que sabe que perdeu”, completou o senador.
O presidente da CPI ressaltou que as instituições do país, entre elas o Congresso Nacional, não permitirão uma ruptura democrática.
“Não haverá voto impresso, não haverá nenhum tipo de golpe contra a nossa democracia. As instituições, com o Congresso à frente, não deixarão que isso aconteça. A democracia tem instrumentos para defender a própria democracia contra arroubos golpistas”, completou Aziz.
Mais reações
Outros senadores da CPI da Covid também reagiram ao desfile militar. Veja a repercussão:
Humberto Costa (PT-PE): O presidente, ao invés de trabalhar, passa 24 horas por dia gerando conflitos, fazendo campanha eleitoral antecipada e gastando dinheiro público. É verdade que essa operação acontece há muitos anos, mas nenhuma vez tivemos a passagem de tanques, de lança foguetes, pela frente do Congresso e do Supremo. Ninguém tem o direito de ganhar no grito, ninguém tem o direito de intimidar o Parlamento brasileiro por conta de uma posição política.
Eduardo Braga (MDB-AM): Neste dia em que a Câmara coloca uma pedra definitiva sobre essa tentativa [voto impresso] e o Senado de forma definitiva bota uma pedra sobre um resquício grave à liberdade, a Lei de Segurança Nacional, vem o presidente da República dar uma demonstração de força com tanque e aparatos bélicos desfilando sobre a esplanada. Quero dizer que fico com a democracia, fico com o artigo da Constituição que diz todo poder emana do povo.
Simone Tebet (MDB-MS): “Uniformes, baionetas, sirenes não irão nos intimidar e não irão nos calar. Vamos aos trabalhos, porque à tarde temos uma lei em defesa do estado democrático de direito para aprovar.”
Otto Alencar (PSD-BA): “Quero dizer que não é só dessa vez em que o presidente da república busca pelos métodos de usar o dele, como ele chama, o seu exército ou suas forças armadas para intimidar o congresso nacional, o supremo tribunal federal, os outros poderes e não tem conseguido. Em uma afronta que eu digo clara à Constituição Federal no seu artigo 5º e também a legislação que garante a democracia dos poderes.”
Randolfe Rodrigues (Rede-AP): “O que estamos vendo neste instante na Praça dos Três Poderes, na esplanada dos ministérios, é uma patética demonstração de fraqueza, mais patético que aqueles desfiles de Kim Jong-un, em Pyongyang, na Coreia do Norte, porque aqueles, pelo menos é para demonstrar força para o inimigo externo, este daqui é para demonstrar força diante de quem? A força a ser demonstrada hoje, senhor presidente, e talvez seja não para demonstrar força, mas para esconder, para esconder e desviar atenção do que realmente importa. O que realmente importa é o balcão de negócios que foi transformado o Ministério da Saúde, quando mais de três mil brasileiros estavam morrendo.”