86 profissionais da saúde morreram de Covid-19 no RN desde o início da pandemia

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Foto: Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi

Por Leonardo Erys, G1 RN

O médico João Joaquim Cavalcante Neto, de 61 anos, conhecido como Doutor João, trabalhava em Natal como pediatra nas UPAs do Potengi e de Cidade da Esperança, além do Hospital dos Pescadores e da UBS de Mãe Luiza durante pandemia da Covid-19. No início de março deste ano, ele contraiu o vírus e não resistiu à doença, morrendo no dia 29 – após 19 dias de internação no Hospital de Campanha.

A família do médico ainda viveu o drama de ver a filha dele, a estudante de medicina Emilly Cavalcante Belarmino, de 25 anos, morrer dois dias depois do pai, também vítima da doença.

Em janeiro deste ano, a enfermeira mossoroense Suely Gurgel, de 40 anos, também perdeu a vida depois de quase dois meses internada lutando contra a Covid-19. Ela morreu sem saber da morte da mãe, um mês antes.

Doutor João e Suely estão entre os casos recentes do total de 86 profissionais de saúde que morreram de Covid-19 em todo o Rio Grande do Norte desde o início da pandemia. Os dados constam em um relatório do Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest/RN) e foram repassados pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) ao G1.

Foto: Arquivo da família

Segundo a pasta, ainda há 12 óbitos de profissionais da saúde sendo investigados, para saber se ocorreram por Covid-19. Os dados são referentes até o dia 4 de abril. Seis profissionais estão internados no momento.

Em relação aos casos de Covid-19, o Rio Grande do Norte registrou, ao todo, 9.816 casos confirmados da doença em profissionais de saúde, o que corresponde a uma parcela de 4,9% de todos os casos registrados no estado. Além disso, há 1.586 casos que seguem como suspeitos, além de 7.902 inconclusivos.

Segundo o relatório do Cerest, houve um aumento de casos confirmados em meados de junho de 2020, “o que permite afirmar, que neste período houve uma intensa campanha para testagem dessas categorias, utilizando os testes rápidos”.

O pico de contaminação entre os profissionais da saúde foi no início do mês de julho. O relatório do Cerest diz que esse momento acompanhou “o pico da Covid-19 na população em geral, sendo assim, a causa, a maior aglomeração nas unidades de saúde, e por consequência, maior número de profissionais da saúde contaminados”.

Profissionais mais contaminados

O documento aponta também que a categoria que mais se contaminou foi a de técnicos e auxiliares de enfermagem, com 3.247 casos confirmados – aproximadamente 33% do total dos mais de 9 mil casos entre os profissionais de saúde do RN.

Os enfermeiros estão em segundo lugar entre os contaminados: foram 1.553 casos confirmados, que representam cerca de 15,8%. Entre os médicos, foram 789 – 8% do total.

Casos de Covid-19 por profissionais de saúde no RN (até 1% do total)

 

Casos confirmados

%

Técnico ou auxiliar de enfermagem

3.247

33%

Enfermeiro

1.553

15,8%

Médico

789

8%

Agente comunitário de saúde

491

5%

Farmacêutico

278

2,8%

Cirurgião-dentista

273

2,7%

Fisioterapeuta

271

2,7%

Recepcionista

258

2,6%

Gestores e especialistas de operações em empresas, secretarias e unidades de serviços de saúde

254

2,5%

Outro tipo de agente de saúde ou visitador sanitário

231

2,3%

Nutricionista

172

1,7%

Condutor de ambulância

167

1,7%

Assistente Social

148

1,5%

Tecnólogo ou técnico em métodos de diagnóstico e terapêutica

145

1,4%

Agente de combate a endemias

145

1,4%

Agente de saúde pública

138

1,4%

Psicólogos e psicanalistas

137

1,4%

Técnico ou auxiliar em odontologia/saúde bucal

116

1,1%

Técnico de laboratório de saúde ou banco de sangue

109

1,1%

Técnico em farmácia e manipulação farmacêutica

108

1,1%

Fonte: Sesap

O relatório indica ainda que “cerca de 87% dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde que conseguimos contato desenvolveram apenas sintomas leves e/ou moderados e outros 58% já apresentam cura”. Além disso, 93% dos profissionais disseram que havia EPIs em “quantidade e qualidade adequadas”. Outros 7% alegaram falta desses equipamentos nas unidades da saúde.

Cidades mais afetadas

Natal foi o município que mais teve profissionais da saúde contaminados pela Covid-19. Ao todo, foram 3.970 casos confirmados no município. Esse número representa cerca de 37,7% dos casos entre os trabalhadores da saúde no RN.

A cidade de Parnamirim, na Região Metropolitana, foi a segunda com mais casos: 843, cerca de 8,5% do total de casos no estado. Mossoró com 681 casos confirmados – cerca de 5,4% – é a terceira na lista de profissionais contaminados e Caicó, com 410, representando cerca de 4,1% do total, é a quarta.

Em contrapartida, o município de Venha-Ver não teve nenhum caso confirmado de Covid-19 entre os profissionais de saúde. Jardim de Angicos e Passagem tiveram um cada.

No recorte das regiões de saúde, a Região Metropolitana é que mais acumula casos: 5.338. Além do maior número absoluto de casos e da incidência, o relatório aponta que “esta também é a região com maior número de trabalhadores e trabalhadoras nos serviços e foi onde menos se pontuou sobre a disponibilidade de EPIs”.

Dez cidades com mais profissionais da saúde infectados

 

Casos confirmados

Natal

3.970

Parnamirim

843

Mossoró

681

Caicó

410

São Gonçalo do Amarante

312

Currais Novos

182

Santa Cruz

138

Macaíba

113

Pau dos Ferros

206

Ceará-Mirim

101

Fonte: Sesap

Idade e cor

A faixa etária de profissionais de saúde entre 30 e 49 anos foi a que mais teve casos confirmados de Covid-19: cerca de 60% do total. Os casos nessa faixa podem “ser um indicador no que se refere à maior incidência de casos leves e moderados, uma das razões para a baixa mortalidade”, cita o relatório.

Além disso, os profissionais mais infectados foram as mulheres – cerca de 71,10% do total. O Cerest cita no relatório que esse número “não surpreende, visto que a grande maioria dos profissionais da saúde são do sexo feminino”.

O relatório também indica que 36,5% dos profissionais infectados são brancos e 36,2% são pardos. O centro informou que essas informações foram autodeclaradas por meio da ficha de notificação.

O relatório diz que os profissionais têm mais acesso aos exames e que isso faz com que a categoria seja a mais testada e, por consequência, a com mais resultados positivos. Por outro lado, o documento reforça que “os trabalhadores e trabalhadoras da saúde encontram-se entre os principais grupos de risco de infeção pelo Covid-19, principalmente pelo seu papel no contato com os usuários que apresentam sintomas de infeção e procuram os serviços de saúde em busca de atendimentos”.

O documento reforça ainda a necessidade de utilizar os EPIs corretamente e fazer a desinfecção de ambientes.

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